ser uma armadura
ser uma pedra
ser um facão
montar num cavalo
se misturar aos detritos
dar passagem ao que for
fortalecer os punhos
endurecer sem perder el cariño
tapar os buracos do interior
estas areias pesadas são linguagem. (ana c.)
morangos mofados não é apenas uma metáfora. as cores também fogem de nós e dos nossos olhos. a gente mofa exatamente como os morangos. a gente perde a cor como as televisões até os anos 60. os fungos ficam invisíveis, mas estão ali aguardando as temporadas mais frias para formarem uma pequena camada branca sobre qualquer coisa parada na umidade por tempo demais.
eu esperava de você coisas meio longas, como viagens e frutas-maduras-coloridas, mas você se moveu para o sul dos nutrientes. não há chance de sobreviver ali no inverno. eu devo ter ficado completamente louca-solar ou completamente lúcida-glacial (o que é impossível). eu esperava de você um animal marinho de águas quentes-litorâneas, tipo uma tartaruga marinha ou um golfinho, mas você foi geleira.
a arte é a última via da repetição. a transferência de uma dor no peito para um quadro em aquarela, óleo ou acrílico. as setenta e nove páginas de um livro de poesia, de correspondências. uma letra de música que começou num guardanapo do barzinho de potilândia.
recife, 08 de maio de 2025
amenizar os estigmas, falar sobre eles, se sentir um pouco menos só. reformular rotas pra nao ser um diagnóstico como se É artista. mas talvez ter um diagnóstico, como se tem uma profissão, um cabelo rosa, um piercing no nariz e um alongamento de cílios.
querida, isso é mais forte do que eu posso escrever. o meu esforço é tudo que eu posso te dar. meu choro, minha nave, meu rio, meu mar, minhas mãos, meus sufocos... nossos sentimentos, nossa força e coragem. me assusto quando te esbarro, mas corro de volta para falar uma primeira e última coisa.