Clarice Lispector - A paixão segundo G.H
"Sentada, eu estava consistindo. Sentada, consistindo, eu estava sabendo que se não chamasse as coisas de salgadas e doces, de tristes ou alegres ou dolorosas ou mesmo com entretons de maior sutileza - que só então eu não estaria mais transcendendo e ficaria na própria coisa."
"A barata me tocava toda com seu olhar negro, facetado, brilhante e neutro.
E agora eu começava a deixá-la me tocar. Na verdade eu havia lutado a vida toda contra o profundo desejo de me deixar ser tocada - e havia lutado porque não tinha podido me permitir a morte daquilo a que eu chamava de minha bondade; a morte da bondade humana. Mas agora eu não queria mais lutar contra. Tinha que existir uma bondade tão outra que não se pareceria com bondade. Eu não queria mais lutar."
"Seus olhos continuavam monotonamente a me olhar, os dois ovários neutros e férteis."
"No entanto, ei-la, barata neutra, sem nome de dor ou de amor. Sua única diferenciação de vida é que ela devia ser macho ou fêmea. Eu só a pensara como fêmea, pois o que é esmagado pela cintura é fêmea."
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