estação

maldito rádio
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                adriana calcanhotto

comecei a ler pizarnik pensando em você

e me vieram esses poemas
[as epígrafes]
me vieram os textos
as cartas fragmentadas 
e umas memórias
das vezes que nos encontramos
quase nunca sozinhas
[acho que nunca]
[por que mesmo?]

ana cristina disse uma vez
que encontrou com um amigo
e tudo que fora conversado ali
era uma carta dela destinada a ele
nunca enviada
[sequer escrita? não sei]

ela sempre jogou com a autoficção
esse termo tão recente
[para uma prática antiga, parece]
devo ter gostado dela justamente por isso
me sentia íntima e desconhecida
devo gostar disso

[enfim]
às vezes eu queria te contar uma carta
aumentar um conto, recitar um poema
te ouvir em todas as suas estações de rádio 
["tanta afinidade assim eu sei que só pode ser bom"]

se eu ligasse meu rádio no seu carro
ouviríamos os ruídos das várias estações
[fora do ar]
e daquelas que emitem um sinal meio fraco
[agor-as-mai-tocad-d-sema...]

eu diria que tudo bem
quem sabe na próxima
deve ser a distância
e começaria a cantarolar
["mas não tem revolta não
eu só quero que você se encontre
saudade até que é bom"]

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