ambígua: fantasiada de novo

a dor de um final de ciclo é tão grande quanto a dor do início de outro ciclo. 

segunda-feira meus olhos abriram com uma das maiores certezas que nunca tive. banhada, vesti a roupa jogada na cadeira. passei o dia caçando abrigo para interpretar as constelações. só pensei em Iemanjá, como quem sente que ela é mãe verdadeira a quem tomo a benção sem sofrer retaliações. pode ser algum engano. dezesseis e trinta quando comecei a escrever um texto - na tentativa de desaguar num oceano. encalhei ainda na beirada.

o que me ocorre agora é te dizer que naqueles dias perdi, propositalmente, meu cheiro na tua casa, porque eu sabia que você jamais o devolveria. sei disso porque quando você passa uma das suas arestas exala o mesmo perfume que é meu. ainda que todas as cartas de tarot me dissessem que jamais voltaríamos a cortar as línguas em navalhas, eu insistia em parecer invisível. é estranho pensar que meu corpo estava nas suas mãos tanto quanto minha cabeça (e o coração?). você nem sempre fez parte desse ciclo de um ano, mas sei, agora, que você foi quem o finalizou com maestria.

no outro dia, eu andava na rua e os olhos das mulheres eram como jiboias famintas.

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